segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Marcelo Oliveira, Ziza e a torcida no centenário Atleticano.

Belo Horizonte (dizem que crise e oportunidade em mandarim se escreve da mesma forma...) - Já faz algum tempo que pensava em escrever sobre o tema “Marcelo Oliveira”. Acho que o momento é interessante para isso pelas críticas que ele vem recebendo. E também porque nós do FEF defendemos, com ressalvas, a efetivação dele no cargo.

Já foi dito aqui algumas vezes que esse talvez não fosse o melhor momento para a efetivação do Marcelo Oliveira no cargo de técnico do time principal do Galo. E a ressalva é justamente pelo fato de o clube viver seu “inferno astral”, digamos assim. Melhor dizendo, o fato de este ser “o ano do centenário” (ADC) já dá uma carga extra de cobrança. Imaginem esta carga extra somada à que já se fazia, seja pela falta de títulos, pela queda para a 2ª divisão ou pela incompetência administrativa...

Como disse, eu mesmo era um que depositava muita expectativa no M.O. Mas logo que seu nome me veio à mente, muito antes de se falar em sua efetivação, comentei com o Gus e com o Beth a ressalva descrita acima, isto é, se este seria o momento certo (se é que há um) pra sua nomeação a “professor”.
Ele mostrou saber trabalhar e desenvolver o potencial de garotos nas divisões de base e, nas vezes em que passou pelo comando do time profissional, também demonstrou algum conhecimento tático. Exemplo disso foram as alterações nas posições dos jogadores do meio-campo em relação ao esquema do técnico anterior, muito pior.

Mas futebol profissional difere muito do futebol de base e o que pesa contra é o fato de ele ter tido pouca experiência no comando de um time profissional. Trabalhou no CRB e não ficou por lá muito tempo. Voltou para o galo e reassumiu a base.Então é chamado para assumir o cargo num momento extremamente crítico e isso, por si só, já cria uma expectativa enorme. Aliada ao fato de ter grande identificação com o clube vem, também, a fama de saber lidar com os “garotos da base”. Entretanto, contra o Botafogo, pela Copa Sulamericana, demonstrou inexperiência ao colocar aqueles garotos para jogar. Será que um técnico como Vanderlei Luxemburgo (claro que não há comparação. Poderia ser qualquer técnico mais experiente) iria jogar a meninada naquela fogueira? Não seria isso um indício ou sintoma da pressão que ele, Marcelo Oliveira, apesar de todo o apoio, estaria sentindo?

O fato é que não me parece ser inteligente um técnico adquirir experiência de treinador em time “grande” (Alô Dunga! Alô CBF!) que está em plena crise.
Assim, o que deveria ter sido feito? A diretoria vacilou (não diga!) em deixar o Ney Franco de bobeira aí, depois da saída do Gallo e isso é fato. Um outro técnico poderia ter sido chamado e aí se evitaria que o M.O. fosse “queimado”, como os garotos da base, num momento tão conturbado.

Este é outro fator que tem influenciado muito o time (e o clube). Desde o ano passado eu já comentava com a moçada que o tal do "ADC" seria o ano do calvário. Não era pessimismo nem qualquer desejo de boicote ao CAM. Claro que não. É que era possível prever que a pressão, neste momento, é muito grande. A necessidade de se ganhar títulos no ADC para marcar a história é muito grande. Torcida e imprensa esperam que se tenha um time forte e competitivo nesta hora simplesmente porque é assim em tudo na vida. Nesses momentos “rituais” sempre se espera que algo grandioso aconteça (no natal é Papai Noel, no revellion, promessas de n quilos a menos, passar no vestibular, ser mais isso ou mais aquilo e blá... blá...). É natural, visto a importância histórica.

Mas a própria história mostrou, também, a verdade sobre o ADC. Os times que já enfrentaram este momento viveram uma pressão acachapante. No galo esta pressão é ainda maior visto a falta de times descentes e de títulos expressivos nos últimos anos. A torcida já cobrava bastante do time e aí o grande pensador marqueteiro Ziza Valadares promete o que não pode dar. Já viu né... Para piorar, boa parte da torcida comprou a idéia. Pronto.

Assim, culpar o Marcelo e seus erros típicos de técnico inexperiente é justo? Aliás, de quem é a culpa? Do Ziza, somente?

Não. Não é justo crucificar o Marcelo Oliveira por não ser um “técnico pronto” assim como também não é justo excluir a torcida de sua responsabilidade não só pelo seu comportamento neste momento, mas historicamente. Não é justo crucificar o Ziza e ameaçá-lo e à sua família pelo fato de ele não ter conseguido fazer do Galo um clube grande no centenário. Também não é justo desconsiderar o fator "pressão ano do centenário" em nossas críticas. Ela pesa, sim.

Entretanto, obviamente isto, por si só, não justifica o time de baixa qualidade técnica que se fez, a incompetência administrativa da diretoria, a falta de profissionalismo do corpo diretor, omissão do conselho deliberativo e tantas outras coisas. Estes são problemas históricos que estão muito mais evidenciados justamente devido à pressão que o ADC trouxe.

Que se cobre do Marcelo aquilo que ele mereça ser cobrado; que se cobre do Ziza o fato de ele ter prometido um grande time JÁ SABENDO que não conseguiria cumprir sua promessa. Que se cobre dele o fato de ter se cercado de pessoas incompetentes. Mas que se cobre com sensatez e até mesmo com justiça. Porque o Ziza NÃO merece ser cobrados pelas merdas que fizeram Ricardo Guimarães, Afonso Paulino e Paulo Cury, nomes pouco lembrados ultimamente.
A atitude de eleger uma pessoa “pra cristo” é sintoma de culpabilização do outro e, desta forma, nós nos eximimos rever nosso comportamento. “Os outros” têm merecido, sim, muitas críticas. Mas é preciso ser feroz nas críticas que fazemos a nós mesmos, torcida, tanto quanto somos com ele, o outro. Apontar o dedo, somente, é nos isentarmos da responsabilidade que temos para com o Clube Atlético Mineiro. Assim, é preciso que nós sejamos justos nas críticas àqueles que comentem os erros que tanto detestamos. Mas que sejamos justos nas críticas aos nossos próprios, também.

10 comentários:

Unknown disse...

Concordo com tudo o que você disse e, se perceber, você chegou a conclusão que a culpa é de todos e de ninguém ao mesmo tempo.
E sobre a culpa da torcida quero citar um exemplo.
Minha noiva acha que eu sou um ótimo médico e me dá apoio incondicional na profissão: isto me dá o direito de parar de estudar e de me esforçar pra ser um melhor profissional??
O apoio sem medidas do torcedor e, por vezes, de forma ignorante não pode ser motivo pra acomodação de todos os "outros culpados".
O atleticano tem uma paixão pelo time que nem vocês analistas conseguem entender direito (eu sei que conseguem, mas é só força de expressão). E isto não pode ser utilizado como culpa pra cada vez mais criar times medíocres. Apesar de ser uma boa desculpa, é inadmissível usar isso como tal.
Abraços a todos.

Jason Urias disse...

Felipe,

a intenção não foi de falar em culpa nem culpados e sim de responsabilidades. Acho que assim fica mais fácil de se pensar em novas atitudes e comportamentos de todos. Pensar em culpados é, como eu disse, apontar defeitos e, apesar de eles existirem, faz com que o foco fique sendo sempre o defeito do outro e nunca o nosso TAMBÉM.

Assim, não disse (ao menos não tive a intenção de dizer) que a torcida do galo é culpada pelo que tem acontecido no galo mas sim RESPONSÁVEl, TAMBÉM, por muitas coisas. Já citei o exemplo do Marcos, zagueiro.

Então, gostaria de deixar claro: eu, e todos do FEF, não estamos defendendo que a torcida abandone o clube. O que estamos sempre dizendo é que a torcida se comporte de uma forma diferente, intolerante à mediocridade e à falta de vontade de vestir a camisa do galo. Agir assim, de forma diferente ao script que temos seguido há anos, vai fazer com que nós iniciemos mudanças realmente profundas e concretas.

Cara, muito antes de ser psicólogo eu já era um atleticano. Você tem estado por aqui com frequência, o que é sensacional, e talvez você tenha dado uma olhada na guia "a paixão incondicional". Eu, como atleticano, entendo bem "das vicissitudes do ser atleticano".

Nos recusarmos a ir ao estádio e compactuar com um time medíocre que não respeita o manto atleticano não é usar de desculpas nem nos acomodarmos. É, sim, tentar funcionar de forma diferente nesta relação de amor com o galo.

Espero ter conseguido ser mais claro.

No mais, valeu pelo comentário!

Gus Martins disse...

Exatamente! também concordo com tudo do post e enfatizo a questão fundamental.
Responsabilidade. Ou, repetindo aquela já velha frase, que reproduzimos nos primeiros posts, "qual a cabe que nos cabe neste latifúndio?".

Colocar a culpa em alguém é um típico comportamento brasileiro. Nada mais do que transferir a sua parcela de reponsabilidade para o outro e poder dizer que, se algo der errado, a culpa é dele. Isso acontece o tempo todo.
Colocaram a culpa da violência nas torcidas organizadas e as tiraram dos estádios. De nada adiantou.
Colocaram a culpa dessa mesma violência na bebida e proibiram a cervejinha no mineirão. Não tenho ido lá, mas em jogos em que o estádio enche, duvido que tenha mudado alguma coisa.
E assim vão se repetindo.

O que temos tentado fazer é sair dessa cadeia sintomática, assumir a nossa responsabilidade disso e deixar bem claro que todos os envolvidos, por paixão ou por profissão, com o Clube Atlético Mineiro também devem fazer.

Grande parte daqueles que ainda se cegam frente à realidade do clube são exatamente aqueles que ainda buscam por culpados. E, sendo assim, acabam se tornando os próprios. O objetivo então de protestarmos (juntamente com outros movimentos sérios que o jason já divulgou aqui) é que se pare com essa cegueira e, da maneira que for preciso, cada parte assuma a sua responsabilidade, o seu lugarzinho na reconstrução dessa instituição um tanto quanto maltratada!

E continuemos falando... e discutindo... e reelaborando!

Jason Urias disse...

Pô, gus! Foi no ponto! Esse lance de cadeia sintomática ficou bem legal. Massa.

Falar, discutir, reelaborar. Pro bem do galo!

Unknown disse...

Pô, vocês devem estar achando que estou aqui só pra contrariar. Num é não, viu? Concordo com as coisas que vocês falam.
Tenho comentado para criar polêmicas e, assim, fazer vocês discutirem e elaborarem mais as opiniões.
Como vocês, sou atleticano até debaixo d´água. Meu irmão está até fazendo uma camisa com os dizeres: "Sou atleticano e não desisto nunca... ...mas este ano está foda."
Abração
Felipe

Jason Urias disse...

Rapaz! De jeito nenhum!

O fato de você comentar aqui constantemente é muito legal não só pra demonstrar opiniões diferentes, mas também pra ajudar a falar e a pensar coisas diferentes.
O comentário que você fez sobre o texto do Marcelo foi uma oportunidade de deixar claro alguns pontos que não talvez eu não tenha conseguido fazer no texto e, mesmo que tenha ficado claro, é oportunidade de reforçar.
Mas, muito mais do que isso, é a discussão.
Por isso, velho, larga mão de bobage e continue comentando tudo que lhe der na telha sempre que quiser.
A gente agradece.

Sds AN!

Jason Urias disse...

Ah, Felipe, e se você teve esta sensação de "do contra" pelo comentário que fiz sobre o comentário do gus, relaxa.
Foi que eu achei que ele conseguiu resumir bem o que eu estava querendo dizer. Num quis induzir sensação nenhuma... hehehe

Por isso, reforço, fique à vontade, pois a casa é alvi-negra!

Gus Martins disse...

Isso aí, felipe. Por isso terminei meu comentário dizendo:
"E continuemos falando... e discutindo... e reelaborando!"
Sendo do contra, ou não, todos nós, que amamos o galo temos que aproveitar os (poucos)espaços em que a discussão pode fluir!
E cada idéia nova é um apoio pra reorganizar as idéias e seguir adiante com algo mais bacana!
Continuemos...

Unknown disse...

Então tá combinado... Continuarei "contrariando"...
Abração
Felipe

Ps.: "Sds AN" significa saudações alvinegras?

Jason Urias disse...

Exatamente, felipe.

E, pra "reforçar positivamente seu comportamento" de comentar aqui no blog, o comentário que você fez acima significou o número recorde de comentários em um post em toda a história do Blog! Nove! (Esse já é o 10º, mas a quebra do recorde mundial do blog foi sua, então, está dado o crédito.)

Sensacional!!

KKKK

Sds AN!