Parto do que o Jason postou "
A diretoria pro divã: Por que não?". E antes que comecem as acusações, defendendo-me logo. Afinal, lanço comentários acerca de 100 anos de história, dos quais vivi apenas ¼. Sobre os outros 75 apenas sei o que foi me contado e o que li a respeito – e que confesso, nem foi tanto assim.
De qualquer forma, é notório que a administração alvinegra sofre de uma prostração incomensurável e que dura já não sei quantos anos. E não é de hoje que a imprensa traz notas sobre os desentendimentos que acontecem na cúpula atleticana. Aliás, muito me admira que esses fatos cheguem à mídia. Ou não aprenderam ainda que roupa suja se lava em casa?
O fato é que existe um mal-estar. Sabemos, como diria Freud, que a maior fonte de sofrimento do ser humano provém das relações com os próprios seres da mesma espécie. Sabemos também que 'sofrimento' é um dos sobrenomes do Clube Atlético Mineiro.
Um dos últimos capítulos dessa vertente do sofrimento atleticano foi protagonizada pelo presidente e pelo ex-diretor de futebol no caso da contratação do atual treinador. No fim das contas, trocou-se o diretor de futebol. Embora a presidência tenha dito que isso NÃO aconteceu pelas divergências na citada negociação, temos vários motivos para não acreditar nisso. Indiferente de quem esteja com a verdade nesse caso, é fato que aí está instaurado outro mal-estar.
E de quem é a culpa? De certa forma é curioso fazer esta pergunta, tendo em vista que não acredito que a CULPA seja de um ou de outro, mas que TODOS têm RESPONSABILIDADE nisso que ocorre. Não posso deixar de lembrar, contudo, como Freud, que a culpa é um dos mecanismos que a sociedade organizou para manter uma certa ordem. Mas não a culpa que um atribui ao outro, mas a culpa que já é internalizada. A culpa que é sentida mesmo sem cometer um suposto ato de infração. Há uma Lei social estabelecida – na psicanálise, o mito edipiano é o que instaura a lei. E a lei é o que determina sanções, mas abre outras possibilidades. Trocando em miúdos: Internalizando a lei, a pessoa já se sente compelida a cumpri-la e, só de pensar em seguir o rumo contrário, aparece o sentimento de culpa.
Sendo este um dos temas do Mal-estar freudiano, nada melhor do que usar disso também para falar do nosso. Mas, em que medida essa culpa se insere na realidade alivnegra? Ora, parece-me que algo está faltando na organização ética e legal no comando da instituição Clube Atlético Mineiro. Mataram o pai da horda e esqueceu-se de colocar um símbolo no lugar. (Ou, seria o Elias Kalil, ao que me consta, esse último símbolo?). Qual é a lei, o símbolo, introjetado no inconsciente do comando atleticano que o leva a responsabilizar-se eticamente pelo Galo? E ao menos sentir culpa, se for preciso? Temo que no momento não exista.
O que sobra dessa falta de referência e compromisso com a instituição Clube Atlético Mineiro é uma nação de apaixonados que convivem diariamente com outro tipo de conflito. Se a relação com o outro é a causa da maior parte do sofrimento humano, o sujeito consigo mesmo já deve se haver com outros embates. Um deles, também tratado por Freud é o do id x superego.
Na segunda tópica freudiana, o aparelho psíquico é descrito de maneira dinâmica, com instâncias que o estruturam. São o id – Instância com forte carga de pulsões, inconsciente. A Reserva de energia psíquica. O ego (eu) funciona como organizador dessas pulsões, na medida em que deve se estabelecer em um meio termo entre as exigências do id e as do superego. Este, por sua vez, se apresenta como uma instância crítica que incide com muita força sobre o ego(eu), em nome da lei social introjetada.
Pode-se dizer, pois, que id x superego, grosso modo é o conflito entre os prazeres inconscientes e o que a sociedade determina. Freud trata do tema como o conflito Princípio do Prazer x Princípio Realidade.
Pelas freqüentes manifestações da torcida atleticana, seja apoiando o galo na reta final de 2005, seja quebrando recordes de público em 2006, seja nos protestos no ano do centenário, como a lavagem da sede no dia de ontem (só pra citar algo mais recente), cada vez mais estou convencido de que a paixão atleticana está com os dois pés grudada no princípio do prazer. Sim, é algo completamente inconsciente, pulsional, irracional, visceral. Desmedido, sem sentido, sem explicação e com fervor. Esta é pra mim a paixão atleticana.
Disse em outro tópico que, diferentemente do senso comum, acredito que paixão tem limite sim. E esse limite é a realidade. O limite onde cada um deve abrir mão de uma cota de prazer desmedido, atribuir um sentido ao que está acontecendo e ceder à realidade. Os orientais sabem disso. É o famoso caminho do meio. Não custa dizer que esse conflito Prazer x Realidade também é uma fonte de mal estar na cultura atleticana. Dessa vez, explicitamente nos torcedores. Quem é o vencedor? No caso, tem sido o princípio do prazer que, inconsciente e desmedido, traz consigo o gozo. O sem sentido que freqüentemente traz consigo o sofrimento que o atleticano tanto conhece. Qual o caminho do meio? Como disse antes, cabe ao ego(eu) organizar o conflito. Essa instância é aquela com a qual o sujeito se reconhece. Assim, se é o ‘eu’ quem pode orientar-se para a realidade, pergunto mais uma vez, torcedor atleticano: Qual a parte que lhe cabe neste latifúndio?